TEXTOS

Com textos de curadoria, críticas, estudos e teorias...


Graças ao Perigo
(texto de curadoria para a exposição Graças ao Perigo, do artista Diego de Santos, ocorrida no espaço cultural Dança no Andar de Cima, em Fortaleza, no período de 18 de novembro a 16 de dezembro de 2011)








Medo de cair, medo de andar, medo de ir... Todos somos atingidos pelo sentimento primitivo de autopreservação mediante o perigo ou o desconhecido. E quando o desafiamos, e quando nos permitimos estar no limiar entre a segurança e o perigo, em que viagens podemos chegar? Que descobertas podemos fazer? Que riscos nos atrevemos a correr?
Começar a andar também é começar a cair, mas nem por isso, paramos de andar ou deixamos de nos sentir atraídos pela possibilidade da queda.
A busca pelo equilíbrio passa pelo desejo do desequilíbrio. Desequilibrar-se também significa encontrar outras maneiras de equilibrar-se, também nos ensina novos modos de andar e de ser. Ao mesmo tempo tememos o chão e a dor da queda, ansiamos a aventura, a proximidade da morte e do perigo. O que faz com que medo e desejo andem tão próximos?
Em Graças ao Perigo, Diego de Santos nos leva a explorar esse momento de possibilidades. Em seus desenhos e fotografias o jovem artista dialoga conosco sobre esse instante entre o equilíbrio e a queda, entre o seguro e o desconhecido, o desejo e o medo.
Em suas obras somos levados por um personagem, um homem incompleto com suas pernas e mãos a mostra, com um corpo imerso, ou no estado de objeto, ou no avesso. Esse é personagem de ação, de atitude interrompida, são as pernas que caminham em direção ao perigo e as mãos que agarram para resistir a correnteza dos acontecimentos que estão fora do seu controle.
A arte de Diego de Santos muito fala sobre essa relação de controle, ela caminha no sentido contrário ao das situações vividas por seu personagem. O traçado de seu desenho é cheio de movimentos repetitivos e minúcias, mesmo possuindo um resultado que parece muito gestual ao utilizar a caneta esferográfica com força sobre o papel bem fino e frágil. Em seu desenho preto e branco, Diego também explora esse ponto de limite entre o riscado e a resistência do papel, assim chegando ao instante de equilíbrio, a medida limite entre a ação do artista e a resistência do material. Dialogar com seu trabalho também é conversar um pouco com suas fobias e inseguranças, com seu desejo de inovar nos caminhos de sua estética sem comprometer sua integridade e a segurança de suas afirmações visuais.
Seu desenho é limpo, firme e seguro, que usa um método aperfeiçoado a cada nova obra. Um desenho que poucas vezes arrisca-se em águas bravias e desconhecidas como aquelas em que o personagem das possíveis histórias/instantes que narra se joga propositadamente, mas ainda assim, amplia-se. Mesmo quando nos surpreende ao transformar a ferida do verso do papel como desenho de primeiro plano, Diego o usa com segurança e em espaços pré definidos e bem estudados. Este é um artista de método, que dialoga com o que faz, que teme e busca a destruição dos significados que construiu. E esses conceitos se aplicam não só a sua construção com o desenho, mas também com o video e a fotografia.
Graças ao Perigo é uma viagem ao movimento cotidiano de desejar aquilo que se teme, de insinuar-se a situações de perda de controle, de desequilibrio, de  impossibilidade de ação consciente, de abrir mão do  domínio de si.
É medo e desejo.
Estejam convidados, ao entrar nessa exposição, a desejar o doce do caramelo, desafiar a gravidade ao escalar o pote e suspender-se, na contemplação, entre aquilo que deseja e o caminho que te trouxe.

Nathália C. Forte